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Hayley Williams fala sobre sua vida pessoal e profissional à The FADER

A edição de julho/agosto da revista The FADER traz Hayley Williams na capa e um extenso artigo que possui uma entrevista intimista com a vocalista. Hayley fala sobre sua vida pessoal e profissional, incluindo sua infância, vida amorosa, saúde mental e mais!

Confira a tradução abaixo das fotos do ensaio realizado pelo fotógrafo Jason Nocito para a revista.

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EMOÇÕES ADULTAS

Hayley Williams, do Paramore, foi um ícone da agonia de uma geração inteira. Agora, aos 28 anos, ela acha que tem sua própria angústia para lidar.

História por Alex Frank / Fotografia por Jason Nocito

Quando eu encontro Hayley Williams, ela se choca contra mim com um abraço e o maior sorriso que se poderia esperar. Nós estamos em um lugar que vende ramen na cidade natal dela de Nashville, tagarelando sobre os aperitivos fritos de milho entre nós, bebericando chá, com Hayley apoiando seus dois pés, ambos revestidos com Vans brilhante, na cadeira próxima a ela.

Acaba que ela trata quase todo mundo com essa familiaridade fácil. Posteriormente naquela tarde, nós cruzamos a cidade no carro dela, um Fiat azul cheio de garrafas de água meio vazias, parando em lugares que ela ama. Um cara de cabelo bagunçado e piercing no nariz em um bar de sucos recebe o “olá” mais caloroso de todos; um homem com dreads longos no cabelo que trabalha na butique da amiga dela recebe um cumprimento radiante e um firme aperto de mãos. Atravesse qualquer porta com ela e você não terá certeza se Hayley conhece as pessoas que estão dentro do local por toda sua vida ou se ela os está conhecendo pela primeira vez.

Essa sensação de intimidade imediata a tem servido bem. Hayley assinou com a Atlantic Records como a principal vocalista e compositora do Paramore quando ela tinha 15 anos. Com o cabelo vermelho de uma heroína de história em quadrinhos e a voz forte que ela usava mais para berrar do que para cantar, ela se tornou uma estrela do rock adolescente e um ícone para as crianças emos e punks ao redor do mundo. Com faixas nervosas como “Emergency” e “Misery Business”, ela provou ser uma compositora sensível e poética, escrevendo músicas sobre crescer, primeiro amor e primeiro coração partido, sempre com um senso de força e entusiasmo. E isso foi ainda mais poderoso porque as bandas que mais se assemelhavam – grupos como My Chemical Romance e Fall Out Boy – eram lideradas quase exclusivamente por homens perturbados. Paramore vendeu milhões de álbuns, se apresentou no TRL e até gravou o single principal da trilha sonora do primeiro filme de “Crepúsculo”, o drama colegial essencial da era-Obama.

Enquanto Hayley e eu discutíamos a essência do novo álbum da banda, “After Laughter”, no almoço, ela descansava o queixo na palma de sua mão. Ela tem 28 anos agora e o estilo de cabelo que costumava ser seu símbolo deu lugar a um loiro levemente sintético que cai livremente sobre seus braços. “Cara, eu não sei,” ela diz sobre os tópicos mais sombrios do álbum. “Eu não me sinto tão esperançosa quanto me sentia quando era adolescente.”

Quando se escuta pela primeira, o álbum pode soar animado, mas está claro que Hayley ainda está passando por alguns problemas profundos nas letras. “Reality will break your heart / Survival will not be the hardest part” [“A realidade vai partir seu coração / Sobrevivência não será a parte mais difícil”], ela canta em “26”, sua voz carregada de tristeza. “If I lay on the floor / Maybe I’ll wake up” [“Se eu me deitar no chão / Talvez eu acordarei”], ela canta na surpreendentemente prazerosa “Forgiviness”, uma música que ela escreveu sobre alguns momentos difíceis com seu marido Chad Gilbert, o guitarrista da banda de pop-punk New Found Glory. Em “Fake Happy” ela canta que ela sorri apenas para as outras pessoas acharem que ela está bem e que ela supõe que todo mundo é secretamente tão insincero quanto ela.

Essa melancolia é diferente dos problemas de adolescente que ela tinha – é mais reflexiva, adulta, debilitante. Ela diz que está lutando contra a depressão nestes últimos anos, pontuados por tempos em que ela ficava o dia inteiro na cama assistindo episódios antigos de “The Office”. Ela diz que isso se tornou tão ruim, em certos momentos, que ela se fixou na morte um pouco demais para o seu próprio conforto e acabou achando um terapeuta: “Pela primeira vez na minha vida, não tinha luz no final do túnel. Eu pensava ‘só queria que tudo parasse’. Não era no sentido de ‘vou tirar a minha vida’. Era só falta de esperança. Tipo, ‘qual é o sentido?’, não acho que eu entendia quão perigoso pode ser essa falta de esperança. Tudo dói.”

Hayley até saiu da banda secretamente por um curto período de tempo no verão de 2015, sentindo-se exausta e pensando que ela não tinha mais nada a dizer ou cantar. “Tinha acabado pra mim”, ela diz. “Eu pensava ‘tem que ter algo mais em que sou boa na minha vida. Talvez esteja na hora de ir achar isso’”. Mas depois que ela saiu, Taylor York – seu principal parceiro de composição, e Justin Meldal-Johnson, o coprodutor de “After Laughter” – começou a mandar para ela faixas não terminadas apenas para ver o que aconteceria. Ele tem histórico de depressão também.

“Nós dois tínhamos dúvidas e tínhamos isso em comum”, Taylor diz. “Eu disse a ela que ela não precisava fazer nada. Mas eu apenas continuei a escrever e então, teve essa hora que ela voltou”. Hayley começou a ensaiar com os instrumentos dele e acabou escrevendo a melodia e a letra para “Forgiviness”, a primeira música do que se tornaria o “After Laughter”. Eles continuaram a criar desse jeito, com Taylor mandando para ela ideias básicas e Hayley se soltando em cima delas. E as músicas continuaram a vir.

Em Nashville, Hayley e eu estacionamos em um bar de sucos e, tomando smoothies, eu digo a ela quão impressionado estou com a sociabilidade fácil dela, considerando que ela está processando algumas coisas difíceis, até mesmo a morte, no “After Laughter”. Ela ri um pouco nervosa e, pela primeira vez no nosso dia, o brilho dela se apaga um pouquinho também. Parece óbvio para ela ser amigável, ela me diz, e estranho eu apontar a sua educação. Se o céu caísse, ela diz, gentileza é pelo que ela gostaria de ser lembrada: “Cara, eu só fui ensinada a ser legal. Um dia eu vou partir e tenho que aceitar que o amanhã não é prometido. Estou bem com a forma como estou vivendo hoje? É a única coisa que posso fazer. Se eu não tivesse um outro, o que eu teria feito com todos os meus ‘hojes’? Estou fazendo um bom trabalho?” Ela olha diretamente para mim. “Como você quer viver?”

Antes de Hayley Williams ser uma líder no pop-punk, ela era mais uma Motown buff. Nascida no Mississippi, ela era tímida mas começou a cantar em um coral de crianças da igreja. Depois do divórcio dos seus pais, o segundo casamento da mãe dela se tornou volátil. “Eu cheguei da escola um dia e minhas malas estavam feitas”, ela diz. “Nós não tínhamos para onde ir, então vivemos com uma amiga dela em um trailer duplo logo na saída do estacionamento da escola”. Eventualmente, quando outra amiga de sua mãe se mudou para Franklin, Tennessee, próximo a Nashville, mãe e filha seguiram. Elas pensaram que se música era o que Hayley queria fazer, Nashville não era um lugar ruim para se estar perto.

Aos 13, Hayley estava escrevendo poesia e se apresentando com uma banda cover por dinheiro. Na escola, ela era zombada pelo seu profundo sotaque sulista e tinha dificuldade em achar relações duradouras. “Eu sofri tanto bullying quando me mudei para cá que comecei a praticar dizer a palavra ‘awesome’ [incrível, impressionante] sem sotaque”, ela diz. Preocupada em como ela estava sendo tratada na aula, a mãe dela achou em uma igreja um tutor que ensinava em casa que a encontrava uma vez por semana e tirou Hayley da escola pública. “Ela disse: ‘posso confiar em você pra ficar sozinha em casa quatro dias por semana?’ e eu disse ‘sim e eu vou escrever músicas o dia inteiro’.” Por conta de ela ser muito solitária, a mãe dela a encorajou a entrar em uma banda em tempo integral apenas para que ela fizesse amigos. Hayley concordou, parte porque ela amava Hanson: “Três irmãos que tocando juntos? Qual é. Eu estava tipo ‘eu quero isso’.”

No programa de tutoria em casa, ela conheceu os irmãos Zac e Josh Farro, que, apesar de terem 11 e 14 anos respectivamente, já tinham gravado algumas músicas. Ela estava entusiasmada e eles logo deram-na boas-vindas. “Crescer ouvindo pop e R&B, e então ser lançada no mundo deles, onde eu ouvia Elliot Smith, Radiohead e Deftones, eu fiquei, tipo: ‘o que eu faço com isso? Nunca tentei escrever músicas como essas’,” ela relembra. “[Mas] Zac começou a tocar bateria e, de repente, se tornou essa música chamada ‘Conspiracy’ que está no nosso primeiro álbum. Eu literalmente sentei com o microfone e silenciosamente cantei as palavras que tinha escrito.”

A banda, que incluía alguns outros garotos, foi formada e começou a fazer shows em eventos de grupo de jovens da igreja, mas Hayley estava escrevendo e gravando também suas próprias demos e mandando-as para as gravadoras. Avril Lavigne tinha recentemente estourado, estimulando o apetite da indústria para alternativas punks de Britney e Christina. “Eu não acho que teria assinado [com uma gravadora] se Avril não tivesse acontecido,” ela diz. “De repente eu estava em Nova Iorque tocando para LA Reid.” Um número de gravadoras a queria, mas apenas Atlantic disse que ela poderia ficar com a banda ao invés de seguir solo. Mas tinha uma pegadinha: eles ofereceriam um contrato separado para a Hayley através da Atlantic, mas os outros membros da banda apenas receberiam através de uma das subsidiárias de rock deles, a Fueled by Ramen.

Paramore lançou seu primeiro álbum, “All We Know is Falling”, quando ela tinha 16. Eles foram convidados para a Warped Tour, primeiro em um palco lateral, depois, pela terceira vez, eles estavam na conta como o evento principal. Warped Tour na época era uma mistura de bandas emo, pop-punk e post-hardcore – qualquer coisa que poderia ser classificado como alt – e o Paramore, com suas músicas sensíveis, porém afiadas, era algo naquele meio lamacento. Em vídeos de performances antigas, Hayley se destaca pelo seu fervor e músculo. Ela pula pelo palco todo, faz headbang com o cabelo vermelho e traz os fãs para cantar com ela no palco.

“Era o meu ensino médio”, ela diz sobre a Warped Tour. “Nós aprendemos como nos conectar com pessoas de um palco.” Ela era uma das poucas mulheres no faturamento principal. “Na metade do caminho, tinha garotas aparecendo com os cabelos iguais ao meu,” ela diz. Ela desenvolveu uma presença formidável: em 2007, em um show na Alemanha, onde eles estavam dividindo o palco com uma banda mais brutal, Korn, Hayley jogou uma garrafa – pensando que alguém da audiência havia jogado-a contra a banda com desprezo – para a multidão. Acabou que ela percebeu que era apenas lixo jogado ali, mas ela mostrou sua ousadia mesmo assim.

Na turnê, o seu pai os levava de cidade em cidade em uma pequena van. “Nós comíamos sanduíche de manteiga de amendoim com geleia todo dia”, ela lembra com certo afeto. Ela conheceu o futuro marido nos bastidores, quando tinha 18 anos; começaram amigos, antes que se tornasse um relacionamento amoroso. Naquela época, estava namorando Josh, também seu parceiro de composição. “Nós éramos crianças! Mesmo namorando, não parecia que nós estávamos de fato namorando. Era como, ‘Oh legal, nos beijamos algumas vezes’”. Todo mundo na banda foi criado no cristianismo e, mesmo que alguns tenham adotado uma visão mais indulgente sobre espiritualidade, eles preservavam uma atitude saudável na época, mesmo cercados pelo caos dos circuitos de festivais. “Nós crescemos no Cinturão Bíblico”, diz Zac. “Existem várias regras impostas pela igreja. Não beber, não fazer sexo, não usar drogas, não xingar”.

Além de Hayley, outros sete membros fizeram parte do Paramore desde 2005, alguns com uma história amarga. Pode ser difícil acompanhar, e a mídia tem sido influenciada pelo drama, com vários rumores sobre os motivos da saída dos integrantes: a ambição solo de Hayley, as disputas sobre créditos na composição, simples discussões. Atualmente, eles são um trio: Taylor, que está na banda desde 2007, na guitarra, e Zac na bateria, depois deixar a banda com o irmão Josh em 2010 e retornar sozinho no ano passado.

A última pessoa a sair foi Jeremy Davis, o baixista fundador, em 2015. Ações judiciais foram arquivadas por ambos os lados e um acordo nesta primavera foi feito sob termos não revelados. “Tell Me How”, uma doce balada ao piano que fecha o “After Laughter”, é uma reflexão sombria sobre a sua saída: “I can’t call you a stranger/ But I can’t call you” [“Eu não posso te chamar de estranho/ Mas eu não posso te chamar”] ela canta. “Do I suffocate or let go?”  [“Devo me sufocar ou deixar para trás?”] Hoje, ela está cansada de falar sobre o verdadeiro espetáculo sobre as mudanças de formação, algumas relacionadas à desigualdade no contrato da banda, e ela fala em generalidades quando o assunto surge. “Eu sofri várias traições na minha vida. Não quero me fazer de vítima, mas acho que contar a verdade me assusta”, responde. “Eu não quero excluir mais pessoas da minha vida. Já foi o suficiente”.

Com o sucesso crescente da banda, a estrela de Hayley começou a se tornar mais brilhante. Em 2010, fez parte de “Airplanes”, do rapper B.o.B., que atingiu a segunda posição nas paradas de sucesso. Em 2011, ela foi capa da revista Cosmopolitan, arrumada como uma verdadeira celebridade de Hollywood. “Tenho certeza que eles retocaram os meus peitos”, ela lembra, rindo. Certa vez, ela diz, em uma tentativa sem sucesso de empurrá-la em direção às músicas de sucesso no rádio, Lyor Cohen, lendário executivo que trabalhava na Atlantic na época, ligou e disse que ela tinha que escrever com Chad Kroeger, do Nickelback. Hayley educadamente, mas decididamente, recusou. Ele persistiu. Então ela negou novamente e desligou o telefone. “Não é isso o que eu quero”, ela diz sobre a possibilidade da fama em carreira solo. “Não sei se serei capaz de encarar milhares de pessoas se eu não puder olhar para a minha esquerda e minha direita e atrás de mim e perceber que estou cercada de pessoas que realmente me conhecem.”

Uma vantagem agridoce de todas as idas e vindas do Paramore é que, conforme a formação foi evoluindo, o som também evoluiu. Esse é um dos motivos no qual, 12 anos depois do lançamento do primeiro álbum, o grupo ainda está vivo e, mais importante, continua relevante. Hayley é obcecada por Talking Heads e isso transparece nos ritmos brincalhões e doidos do “After Laughter”. É uma distância enorme dos riffs de guitarra agressivos do começo do Paramore, em grande parte porque Taylor substituiu Josh como parceiro de composição de Hayley, compartilhando o mesmo amor por new wave e R&B, os quais eles estão livres para explorar juntos.

“Quando comecei a compor”, Taylor diz, “eu mostrei para a Hayley todas essas músicas com riffs massivos de guitarra – mais do mesmo. A cada nova ideia mostrada, ela dizia, ‘isso é legal, mas você tem algo diferente?’. A única coisa que eu tinha para mostrar era ‘Ain’t It Fun’ – levei alto-falantes pequenos e os coloquei em cima de garrafas de água, para ajustar a altura. Eram algumas batidas e marimba. Pensei que não teria como aquilo ser o Paramore, mas os olhos dela brilharam. E isso foi um ponto decisivo na carreira”.

“Ain’t It Fun”, uma música que fala sobre como é difícil a transição da adolescência à vida adulta, serviu de ponto-chave do álbum auto-intitulado, sendo o maior sucesso da banda, até agora. Assim como todos os álbuns anteriores, ganhou certificação de platina, mas também recebeu a aclamação da crítica, algo que, apesar da popularidade da banda, eram sempre ignorados. A música traz um refrão triunfante – não distante dos maiores sucessos do grande produtor Max Martin – e Hayley e Taylor não precisaram de nenhuma máquina para fazer isso por eles. Porém, nem todo mundo entendeu de imediato a reinvenção do Paramore. Nada parecido com rock era tocado em estações de rádio populares, ainda mais em uma era repleta de artistas caricatos, como Katy Perry e Nicki Minaj. Antes de a gravadora tentar emplacar “Ain’t It Fun,” eles proporam uma música similar, o punk chiclete de “Still Into You”, para observar a situação. Na Z100, uma das maiores estações pop no país, um programador disse a eles que não poderiam transmitir músicas com guitarras.

Meses mais tarde, “Still Into You” e eventualmente “Ain’t It Fun” acabaram se impulsionando por conta própria e atingiram o top 40. E assim, passou a existir guitarras nas estações pop novamente. Em 2015, “Ain’t It Fun” garantiu ao Paramore o seu primeiro Grammy, fazendo de Hayley a primeira mulher a vencer a categoria de “Melhor Música de Rock” desde Alanis Morissette, 16 anos antes. O som refinado e polido do Paramore foi capaz de predizer o futuro: Taylor Swift, amiga de Hayley, realizou o mesmo truque (mas em uma escala ainda maior) em 2014, quando ela abandonou o country no passado em troca de um brilho menos afetuoso. Com o auxílio de Max Martin, Taylor colocou ênfase em refrães poderosos, algo que Hayley já havia provado ser muito boa. Hayley fez até uma participação no clipe da peça central do álbum, “Bad Blood”, uma música rebelde e o mais próximo que Taylor pode chegar do espírito desordeiro de Hayley.

Hoje, o Paramore talvez esteja em sua posição mais forte, não apenas por sobreviver à era pop punk e à transição para uma banda completamente amadurecida, mas sim porque todo o mundo parece ter se inspirado naquela atitude febril na qual o Paramore foi pioneiro. De artistas country a rappers, vários foram salpicados pelo pop punk – o artista country Tucker Beathard, de 22 anos, disse recentemente à Pitchfork que não foi Brad Paisley quem o inspirou a se tornar um artista, mas sim ver o Paramore em seu 14º aniversário. O rapper revelação e entusiasta de cabelos rosa Lil Uzi Vert gravou recentemente um vídeo sorrindo e cantando “Ain’t It Fun” e, mais tarde, criou “XO TOUR Llif3”, um dos maiores hits do ano, ao misturar rock e hip hop. “O Paramore expandiu o meu gosto na música,” diz Uzi. “Eles eram as crianças legais do quarteirão em que cresceram. São maravilhosos e é por isso que eu ainda os curto”. A angústia está de volta.

E agora que o “After Laughter” existe, a ideia do Paramore nunca fez tanto sentido. É um álbum excelente, o mais consistente de toda a discografia da banda. As letras são profundas, como sempre, e a instrumentação mais leve combina com a força de Hayley enquanto cantora – ela nunca soou tão clara e confortável, mesmo cantando sobre dor. Então, como foi lançar isso? No dia em que o álbum saiu, Hayley estava derrotada pela tristeza. Não foi tão ruim como os dias mais escuros, quando ela não conseguia sair da cama e não queria saber de escrever música, até o fim da noite ela estava se sentindo melhor novamente – ela e os caras colocaram o álbum e cantaram juntos. Mais cedo, durante um meet and greet com 300 fãs, ela estava sofrendo. “Foi um dia pesado, estávamos nos separando dessa coisa que nos deixou vivos”, ela diz. “E eu tenho certeza que isso me deixou viva”.

Depois do almoço, Hayley retorna para a casa por um momento, então estávamos preparados para encontrar o resto da banda na casa do Zac, em uma adorável área suburbana ao sul de Nashville, para uma noite de comida mexicana e boliche. Mas houve um grande desvio antes. Estava dirigindo com a assessora de imprensa do Paramore, que me ofereceu uma carona. Antes de chegar ao local do Zac, ela deixou claro que Hayley não tinha gostado de alguns questionamentos durante a entrevista naquela tarde. Quando perguntei quais questões incomodou Hayley, ela não soube especificar.

Quando chegamos para passar um tempo com Hayley e os rapazes, eu senti a indiferença rapidamente. Hayley é educada, porém quieta. Ela continua com os óculos de sol dentro da casa, está inquieta e mal fizemos contato visual. Assim que sentamos, eu senti aquela sensação de desconforto que me lembra do refeitório do ensino médio, sentado numa mesa com um amigo que está chateado comigo, mas você não sabe dizer o motivo. Mexendo em meu celular, eu notei no Twitter que, logo após a entrevista, ela escreveu algo bastante contundente: “apenas aproveite a maldita música”.

Um pouco desorientado, eu perguntei à assessora se Hayley e eu poderíamos falar sobre o que deu errado, fui até a parte da frente da casa do Zac para coletar meus pensamentos e esperar por uma resposta. Hayley aparece com uma notável erupção de energia, sentamos enquanto o céu se tornava cinza e, depois, foi tomado pela escuridão.

Ela me disse que após a conversa, ela teve uma crise de pânico em seu carro. Pede várias desculpas sobre como o que a conversa acabou se tornando, e me diz que o gatilho foi a pergunta sobre o processo com o antigo companheiro de banda. Ela diz que os motivos legais dificultam saber o que se pode ou não divulgar sobre o caso, e que todas as notícias recentes da banda estão focadas no drama e não nas músicas, e isso a deixa entediada e estressada ao mesmo tempo.  Pareceu justo. Porém, continuei investindo até que ela eventualmente admite ser mais do que isso, mas que estava passando por dificuldades em explicar, ou entender por si mesma, a situação.

Eu disse para que ela pensasse sobre isso, falando que estava disposto a escrever sobre este episódio estranho, e que seria bom se ela fornecesse uma explicação mais completa na sua própria perspectiva. Essa ideia, para a minha surpresa, parece ter capturado o seu interesse. Ela rapidamente concordou e nos abraçamos, então partimos para jogar boliche em um lugar repleto de neon que parece não ter mudado sua decoração desde a década de 1980.

Zac comprou um jarro de cerveja e Hayley foi gentil comigo, me encorajando mesmo quando erro todos os pinos. Alguém, reconhecendo a banda, coloca uma série de músicas do Paramore nos alto-falantes, Hayley pula, pega uma bola rosa que combina com os óculos de sol – ainda no rosto, mesmo sendo 21:30 – e manda voando direto para a valeta, onde fica estranhamente presa. Eu joguei uma bola roxa pra tentar tirar ela de lá, mas isso não resolveu o problema: a bola rosa da Hayley conseguiu se soltar, mas a minha estava presa. Depois de ficar em último no nosso primeiro jogo, ela me parabeniza como se eu tivesse ganhado, não sei se isso me fez parecer com o garoto mais popular do colégio, ou o pateta que foi empurrado em uma poça e precisa de palavras de incentivo.

Na noite seguinte, Hayley me buscou com o seu Fiat e dirigimos para um hotel boutique, com um bar espaçoso em uma parte famosa de Nashville. Notei que o smoothie inacabado que comprei para ela no dia anterior ainda estava no carro, agora marrom e fétido. “Vê como eu sou nojenta?” ela disse. No bar, eu disse como estava chocado que uma conversa, que pensava ter sido harmoniosa, acabou tomando tal proporção. “Comecei a pensar sobre as coisas sob as quais nós conversamos”, ela diz “e sobre como eu ainda estou passando por várias dessas coisas. Tipo, eu não… superei este álbum. Também estou mais velha. Se pegar minha bicicleta agora eu saberei todos os jeitos em que eu posso me machucar, é diferente daquela menina de 10 anos que costumava ser, subindo em uma rampa e descer o mais rápido que eu podia, tão rápida quanto os meninos da minha vizinhança”.

Ao longo dos anos, ela cresceu desconfiada sobre falar demais sobre ela mesma ou sobre a banda, pois, em alguns círculos, as brigas e as amizades perdidas acabam abastecendo a fofoca e as manchetes. Eu perguntei se a mensagem que ela escreveu – sobre apenas curtir a maldita música – era devido à frustração com a entrevista, mas ela diz que não, que era uma resposta para os fãs que viviam mandando as previsões de venda do álbum na primeira semana. Ela estava tão enjoada do aspecto comercial da indústria da música que, antes do “After Laughter” sair, tentou renegociar o seu contrato com a Atlantic – aquele que ela assinou quando era adolescente – então poderia ter menos álbuns do que era obrigada a entregar. “Eu não queria mais [o contrato] sobre a minha cabeça, e queria acabar com o aspecto comercial”, ela diz. A Atlantic não aceitou.

Na visão de Hayley, tudo o que ela queria eram amigos para fazer música. “Eu era apenas uma criança, queria muito fazer parte de algo. Quando consegui um contrato para mim, me senti muito sozinha”, ela diz. “Se meu pai estivesse aqui, ele falaria sobre todas as páginas do meu diário que eu desenhei eu e mais quatro amigos, ainda sem rosto, em instrumentos diferentes. É por isso que quando eu vejo um jovem em algum show que esteja chorando, pois percebe que está cercado de outras pessoas que o entende, eu choro no palco. E escondo isso, pois é constrangedor. Mas eu sei o que é querer encontrar o seu lugar. E este é o meu lugar. Este é o meu lugar!

Chegamos a um impasse. Ela diz que depois de uma década aos olhos do público, algumas coisas são melhores se não forem ditas. “O que eu devo às pessoas?” ela se pergunta algumas vezes. Mesmo com todas as suas batalhas, ela está disposta a mostrar para o mundo a sua alegria em estar nessa banda neste momento. “Não existe nada que eu queira falar sobre o álbum que eu já não disse”, ela responde. “E é por isso que eu sou muito grata pela música. Pois consigo expressar partes de mim que eu não sei como expressar de outra forma”. Nós conversamos por mais um tempo, mas o aquele papo acabou sem solução. Ela diz que provavelmente não dará mais entrevistas por um tempo, pelo menos não sem os seus companheiros de banda.

Hayley oferece para me levar de volta para o hotel, no caminho ela coloca uma demo de “Forgiveness”, a música do “After Laughter” que eu disse ser minha favorita. Nós começamos a harmonizar juntos. A música fala sobre como o perdão pode ser difícil, mas naquele momento, tudo acabou sendo meio divertido. Algumas vezes você não é tão diferente de quem era aos 15 anos, passivo-agressivo, algumas vezes muito emotivo, mas a verdade é que é sempre legal curtir músicas tristes no carro. Ela diz que eu tenho uma boa entonação, não sei se está apenas sendo legal ou se é verdade.

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte

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