Hayley Williams fala sobre as pressões do meio artístico à Vice
Por em 24 de julho de 2017

Em entrevista à Vice, Hayley fala sobre as pressões do meio artístico. Confira a matéria traduzida na íntegra:

Hayley Williams: “Tudo vai ser tudo”

A líder do Paramore, de fala sincera, e frequentemente de cabelo rosa, cresceu com seus fãs. Mas o novo álbum, After Laughter, fala em um outro nível sobre as pressões e prazeres de crescer.

Hayley Williams está saltando ao redor do palco do Royal Albert Hall de Londres com o sutiã de uma fã na cabeça. O público, depois de ter abandonado os assentos e se esmagado na frente do palco, grita de alegria quando o riff de xilofone da abertura de Hard Times começa a tocar. O lugar está estremecendo com tanta alegria, de fato, que a letra da música parece cômica por estar fora de contexto. “Tudo o que eu quero é acordar bem”, canta Williams, pisando em cada palavra enquanto tira o sutiã da cabeça. “Diga-me que eu estou bem, que não vou morrer”. Para uma música que fala sobre viver sob a nuvem escura da depressão, ela tem uma grande batida.

Essa contradição tonal atravessa o coração do quinto álbum do Paramore, AfterLaughter. Suas reflexões francas sobre auto sabotagem, depressão e as consequências de relacionamentos estão envoltos em um som animado inspirado no pop dos anos 80. Embora, inicialmente, ela tenha se preocupado com o fato de que tudo parecia assustador – especialmente porque o Paramore os últimos dez anos como uma banda de pop-punk com fúria adolescente – a abordagem provou ser libertadora para Williams. Seu lema, inspirado em seus heróis de infância The Cure e Talking Heads, é “chore muito, dance ainda mais”.

Falando de LA pelo telefone, Williams reflete sobre como é canalizar as suas lutas para a música, a pressão da fama (particularmente por ser uma artista feminina), e por que ela está grata por estar viva.

Há um fio de pessimismo em After Laughter que todos abraçam e rejeitam à medida que o álbum continua. Como um todo, onde vocês pretendiam chegar?

Eu estive brincando ultimamente que sou uma realista em recuperação. Quando estávamos escrevendo (nosso terceiro álbum), Brand New Eyes, parei de ser muito esperançosa e sonhadora, porque eu sentia que todas as vezes que eu deixava o meu coração falar mais alto que a minha cabeça, acabava machucada. Tem sido algo que tenho enfrentado muito em minha vida. Parei de pensar no que eu poderia sonhar, e comecei a pensar no que realmente era possível. Eu não acho que isso é ruim, mas eu também quero sonhar um pouco. Eu passei por coisas nos últimos anos que, se eu não tivesse meus sonhos, se eu não achasse um jeito de procurar luz no fim do túnel, então seria simplesmente inútil tentar dia após dia. É difícil responder onde queríamos chegar, mas acho que todo o álbum me mostra dentro e fora de pensamentos como: “Bem, hoje eu estou lutando porque realmente quero sonhar e esperar por algo”. E, no dia seguinte eu acordo, tipo: “Eu não vejo luz no fim do túnel. Ela se foi e eu tenho que me concentrar no que está na minha frente”. Talvez as outras pessoas possam decidir isso colocando no contexto de suas próprias vidas.

Quando você percebeu que a música de vocês estava seguindo para essa direção (do pop), você se preocupou com o fato de que não seria apropriado acompanha-las de letras tão sombrias?

Sim, eu estava muito preocupada com isso. Falei para o Taylor por pelo menos seis meses: “Você precisa me trazer uma música triste, por favor”. O Taylor pode compor a coisa mais feliz que você já ouviu enquanto está passando por algo pesado em sua própria vida. Eu queria saber lidar com as coisas dessa maneira em alguns momentos, de um jeito que eu possa apenas flutuar acima dos meus sentimentos (mas saber que eles ainda estão lá). Mas eu estava tão dentro da minha cabeça, era difícil. Graças a Deus, Taylor escreveu esses sons, porque eu ficaria tão assustada se eu tivesse que passar por tudo novamente cada vez que eu cantasse. Eu quero poder dançar algumas coisas. Eu continuo dizendo “chore muito, dance ainda mais”. E é assim que eu me sinto quando estou no palco tocando essas músicas. É algo como “Cara, a vida é realmente difícil às vezes, mas eu vou tentar levar isso do meu jeito, pisar por toda a parte e dançar e passar por esse dia da melhor forma que eu conseguir”. Então eu estou agradecida pela relação entre a melodia e a letra, é realmente uma cura. É tão bom sentir dentro de mim todas as emoções, quase de uma vez, para realmente saber que estou viva.

Você mencionou anteriormente que estava “muito dentro da sua própria cabeça”. Em Idle Worship, você lida com as pressões de ser um modelo a ser seguido – o que é uma frustração muito compreensível. Mas o quanto dessa pressão que você sente é interna e o quanto é externa?

Eu me encontrei passando por uma situação estranha nos últimos anos, onde eu estava passando por todas essas coisas na minha vida pessoal, mas ao mesmo tempo tínhamos acabado de sair deste álbum bem-sucedido. As pessoas vinham até mim na minha cidade natal, com camisas estampadas com fotos minhas em poses de super heróis, e elas diziam: “você é perfeita, eu me inspiro em você há tanto tempo”. Nunca desprezei nada do que eles disseram porque essa é a verdade para eles e eu aprecio isso, mas o que eu não consegui aceitar foi o quanto isso contrastava com a maneira como eu me via. Eu estava desmoronando. Eu estava perdendo amizades, estava passando por problemas familiares, no meu relacionamento. Eu simplesmente me sentia como: “uau, essa pessoa que está de pé aqui na minha frente não sabe que estou pior do que eles”. Eles me pedem conselho e dizem como sou perfeita. Fiquei brava comigo por não estar realmente neste nível. E isso me fez pensar: “Eu me pintei como alguém que consegue lidar com isso? Fiz isso comigo? ”. Fui para casa e, não muito tempo depois, escrevi para a música que Taylor havia me dado semanas antes e finalmente consegui colocar tudo isso para fora.

 

Às vezes fico me perguntando se as artistas femininas são colocadas em um padrão mais alto quando se trata de ser um modelo para os fãs.

Eu concordo absolutamente com isso. Há tantas partes dessa conversa que experimento diariamente e, às vezes, nem consigo intervir, somente sei que está acontecendo. Estávamos saindo do aeroporto ontem e, ultimamente, os paparazzis estão lá. Nosso gerente de turnê disso: “você quer ir direto para a van?”. E eu estava tipo: “quer saber? Eu quero”, porque eu não me sinto à vontade com uma lente enorme na minha cara, eu fico ansiosa e agitada. Mas eu só queria ir se Taylor e Zac estivessem comigo. Se eu sair e ninguém mais vier comigo, então eu sou idiota, a única que deixa os companheiros de banda para trás. É essa pequena e sutil escolha que eu sinto que tenho que fazer, que antecipam o fato de eu ser um alvo apenas por ser uma mulher em uma banda. Eu tento não me fazer de vítima, porque eu me sinto muito forte. Fui colocada nesta vida e sei que posso lidar com isso, mas há algumas verdades que estão aí e, se as pessoas veem ou não, isso é problema delas, mas definitivamente sinto isso. Eu sei o que é ser mantida em um padrão que é simplesmente inatingível e impossível.

Você falou que está vivando as músicas do After Laughter em tempo real. É difícil cantar sobre sentimentos que ainda fazem parte da sua vida?

Se eu pudesse planejar, teria dito: “deixe-me botar a minha vida em ordem, descobrir as respostas para os problemas, só depois vamos gravar um álbum e eu poderei falar sobre como tudo vai ficar bem”. Mas eu realmente não quero ser a porta-voz do “tudo irá ficar bem”, eu só quero dizer: “tudo vai ser tudo”. Eu não sei o que isso realmente significa para alguém que não sou eu, mas tudo o que posso fazer é acordar, cantar uma música que eu amo mais do que qualquer coisa no mundo e depois ir para casa, deitar a minha cabeça no travesseiro e sentir muito orgulho por conseguir fazer isso. Eu estou tão agradecida por compartilhar esta vida com meus melhores amigos. Esta são as pessoas com quem eu fui para a escola, começamos uma banda e, de alguma forma, estamos tocando em um programa de TV esta noite ao vivo, apresentando essas músicas que escrevemos juntos. Tudo isso me deixa agradecida e orgulhosa de estar viva e sentir.

Tradução e adaptação: equipe do Paramore BR | Fonte

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